Por Lanna Silveira
Após a repercussão de um vídeo em que proferia ofensas preconceituosas contra o vereador de Barra do Piraí, Pedrinho ADL, além de direcionar ameaças aos vereadores da Câmara Municipal, o pastor Matheus de Melo Oliveira, líder religioso da Comunidade Evangélica Atos, enviou um pedido de desculpas sobre o seu discurso nesta segunda-feira (17).
Em uma carta enviada à Câmara Municipal e direcionada a todos os vereadores da casa, o pastor reconhece que “proferiu palavras que, infelizmente, causaram grande desconforto na cidade”, afirmando que suas declarações eram direcionadas apenas à comunidade religiosa da qual faz parte, e estavam relacionadas à posição de outros vereadores que compartilham da fé evangélica e tiveram posicionamento neutro em relação ao projeto de lei. Matheus ressalta ainda que não havia intenção de que o vídeo fosse divulgado publicamente, visto que foi apresentado em um grupo de conversas privados sem maiores exposições.
– Destaco que em nenhum momento tive a intenção de desrespeitar esta casa, seus representantes ou qualquer outro segmento da sociedade, bem como não tive a intenção de desrespeitar nenhuma religião. (…) Enfatizo que tenho muito respeito a todos os que professam livremente suas fés, ressaltando o meu respeito a todas as religiões – acrescenta o pastor, reiterando um pedido de desculpas “a todos que se sentiram ofendidos” com seu depoimento.
O vereador Pedrinho ADL se posicionou sobre a retratação do pastor, esclarecendo que aceita suas desculpas, mas ressalta que isso não será suficiente para anular as palavras que foram ditas, acrescentando que ainda deseja não manter nenhum tipo de aproximação com o pastor após ouvir suas opiniões.
Entenda o caso
No início da semana, um vídeo de pregação do pastor Matheus repercutiu entre moradores de Barra do Piraí nas redes sociais. A princípio, Matheus lamenta a criação de um Projeto de Lei que pretende criar um dia dedicado a celebrar uma entidade religiosa de matriz africana – a “Caminhada de Zé Pilintra” -, chamando a figura de “entidade demoníaca que tem como objetivo levar homens para o vício, para dominar e destruir famílias.”
O pastor ainda alegou ter tentado barrar o avanço do PL ao entrar em contato com o presidente da Câmara Municipal, Rafael Couto, que teria afirmado que não conseguiria segurar o projeto por muitos dias, já que Pedrinho APL estava trabalhando para que este fosse votado rapidamente. A partir disso, Matheus descredibiliza projetos públicos de Pedrinho voltados para a diversidade social, além de atacá-lo diretamente. “Você que está aqui e vota no Pedrinho ADL, reveja seus conceitos. Ele trouxe a ‘marcha gay’ para Barra do Piraí e, agora, quer trazer a ‘marcha do Zé Pilintra’, e tem gente votando em um endemoniado desse.”
Em seguida, o pastor ameaça boicotar a carreira dos vereadores que votarem a favor deste PL junto à comunidade evangélica local. Apesar de afirmar, em sua carta de retratação, que não tinha a intenção de que suas opiniões se tornassem públicas, Matheus disse em seu discurso que planejava gravar um novo vídeo, a ser enviado aos vereadores, dizendo que “(os evangélicos) são 32% da população” e que, caso o parlamentar vote a favor do projeto, a comunidade irá trabalhar para que este “não tenha mais carreira política na cidade”.
A divulgação do vídeo causou revolta entre líderes religiosos e políticos municipais, que se pronunciaram em notas de repúdio em suas redes sociais, reforçando que a Constituição Federal define o Brasil como um estado laico, além da criminalidade da discriminação religiosa, com base na Lei 7.716/89. Mediante aos ataques direcionados a sua figura, Pedrinho ADL registrou um boletim de ocorrência contra o pastor Matheus nesta segunda-feira (17).
Em suas redes sociais, Pedrinho afirma que não voltará atrás no PL da Caminhada do Zé Pilintra, reiterando que ele será votado em turno único na próxima terça-feira, às 17h. O vereador acrescenta que, além do boletim de ocorrência, também será pedida a cassação de Matheus como pastor da igreja evangélica. “Nós não aceitamos em pleno século 21 intolerâncias, principalmente a religiosa. (…) Eu não estou satisfeito em fazer isso com o senhor, mas isso é pra mostrar que o senhor tem que estudar muito mais teologia para estar numa igreja”, conclui.