“Um cenário de guerra”. Foi assim que os proprietários de cavalos que ficam no Clube Hípico Sul Fluminense, em Volta Redonda, descreveram os 56 animais que estão em estado de intoxicação
alimentar. O problema teria ocorrido por conta da ração ingerida pelos animais. Trata-se da Forrage Horse, da marca Nutratta Nutrição Animal, na mira do Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa) e proibida de ser vendida após a suspeita de componentes contaminantes. Dos animais que ficam hospedados na Ilha São João, pelo menos 7 morreram.
A ração vinha sendo utilizada há pelo menos um ano para alimentação dos cavalos, segundo o vice-presidente do Clube, Nilmar Inácio. O primeiro óbito ocorreu em 19 de maio, mas pelo quadro clínico dos animais, o número de mortes pode subir. “Os animais pararam de se alimentar, ficam de cabeça baixa e acaba não tendo jeito. Há dois dias, aqui estava em verdadeiro clima de velório”, afirmou.

Donos lamentam
A atleta de sela Rebeca Rosa perdeu sua égua da raça Mangalarga chamada Duqueza. Rebeca e sua família concederam uma entrevista ao Correio Sul Fluminense, em julho de 2024, sobre seu acervo de troféus e vitórias colecionadas em competições em prova social e marcha com o animal.
– Entre sábado e domingo ela parou de comer. A gente percebeu a intoxicação, chamamos a veterinária e gastamos o que tinha e o que não tinha para tentar salvá-la, mas não havia melhora – disse o pai da atleta Anderson Luiz, abalado. Somente com a medicação, ele afirmou que gastou a soma de R$ 3 mil e ainda não havia recebido o valor total da cobrança de serviços do veterinário.
Apesar do valor, a perda é irreparável. Segundo o pai, Rebeca vinha treinando com o animal para uma próxima competição internacional, no mês seguinte. “Minha filha olhou para mim chorando e disse ‘pai, minha duplinha do internacional morreu’. Estamos na estaca zero, vamos ter que recomeçar tudo de novo”, disse.
O vendedor e amante de cavalos, Luiz Fernando da Silva, também teve um de seus animais intoxicados após ingerir a ração. O animal, até o fechamento desta edição, estava sob medicação intravenosa com soro por não conseguir se alimentar e Luiz, mais conhecido como “Papagaio”, ficou na expectativa pela recuperação do animal. “Escolinha (Municipal de Hipismo), veterinários, clube, todos estão trabalhando em união para ajudar. É uma guerra. Estamos entrando com medicamento para salvá-los e, se Deus quiser, serão salvos”, afirmou.

Prognóstico desfavorável
Uma das veterinárias que estava no local para tratamento de cerca de 20 cavalos, Ana Carolina Rocha, explicou que maioria dos animais estão apresentando um quadro de intoxição alimentar com alteração hepática, ou seja, no fígado. Há casos mais agudos e outros mais amenos, por isso, as mortes podem acontecer em menos de uma semana até 30 dias depois da manifestação dos primeiros sintomas.
– Não temos certeza do que causou. Há uma suspeita que há intoxicação por ionóforo, mais conhecido como monenzina, mas é uma suspeita. O comprometimento começa no fígado e, esses animais estão com plaquetas muito baixas, alguns com grau de anemia, o que causa microhemorragias pelo corpo inteiro, principalmente intestino, fígado e rim. Isso foi constatado na necrópsia – afirmou a médica.
Nos animais que seguem vivos, o protocolo é cuidar dos sintomas e a intoxicação em paralelo. “Acontece como se fosse uma doença generalizada muscular, que é onde as enzimas hepáticas depositam quando há a falência hepática. Temos que esperar o corpo reagir, mas maioria dos casos estão vindo a óbito”, concluiu.
Representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estiveram no local nesta quinta-feira (05) para colher amostras tanto da ração quanto dos cavalos que estão em tratamento.

Outros casos no país
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou nesta quarta-feira (04) que a ração Forrage Horse, da Nutratta Nutrição Animal, fosse recolhida e tivesse sua venda proibida após a suposta morte de 29 cavalos em Indaiatuba, cidade no interior de São Paulo.
Segundo um ofício do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, há indícios de presença de “contaminantes que podem prejudicar a saúde animal”, sendo impossibilitado consumir o produto após fabricação a partir de março de 2025.
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