Distrito carrega origens, tradições e a preservação das produções artesanais
Próximo ao Dia Mundial do Chocolate, celebrado nesta segunda-feira (7), a equipe do Correio Sul Fluminense e do Correio da Manhã foi até Penedo, conhecido como um dos principais polos chocolateiros do Brasil. Em meio às exuberantes paisagens da região das Agulhas Negras, foi possível conhecer fábricas tradicionais com mais de quatro décadas de história, além de mergulhar no universo do chocolate artesanal, produzido no estilo bean-to-bar, na famosa “Pequena Finlândia”.
O apelido não é por acaso: o distrito carrega traços culturais herdados da imigração finlandesa. No fim da década de 1920, o idealizador Toivo Uuskallio atendeu, segundo ele próprio escreveu, a um “chamado espiritual” e deixou a Finlândia rumo ao Brasil. Em janeiro de 1929, adquiriu a antiga Fazenda Penedo com o sonho de criar uma nova comunidade baseada na simplicidade e em valores espirituais. A agricultura era o plano inicial, mas com o passar do tempo, o artesanato e o turismo se firmaram como pilares da economia local.
Já nos anos 1940, as casas da colônia passaram a receber hóspedes, e Penedo se consolidou como um dos principais destinos turísticos para quem gosta de clima ameno, chalés de madeira e claro, uma das sobremesas mais amadas do mundo: o chocolate.
Experiência sensorial
Em Penedo, que fica a cerca de três horas do Rio de Janeiro e a quatro horas de São Paulo, é possível conhecer lojas e fábricas que levam os turistas a não só apreciarem um bom chocolate, mas vivenciar uma verdadeira experiência sensorial.
As receitas, muitas delas passadas de geração em geração – como no caso das fábricas Tonttulakki Suklaat, Joulupukin Suklaa e Jyvaskyla. Durante a visita, a equipe conheceu de perto o verdadeiro sabor da produção artesanal de chocolate com Ricardo Toyoshima, um dos sócios e chef patissier da Fuê Gelato e Chocolate.
A unidade, que fica dentro da famosa Casa do Papai Noel em Penedo, na Rua das Velas, funciona de domingo a domingo. Logo na entrada, já é possível perceber que ali o chocolate é levado a sério: da decoração das paredes aos produtos nas prateleiras, tudo conta uma história sobre o processo bean to bar.
‘Bean to bar’
O conceito, que vem ganhando força entre os apreciadores de confeitaria, significa produzir o chocolate a partir da amêndoa do cacau, sem adição de aditivos artificiais ou etapas industriais. Ou seja, se trata de um processo artesanal do início ao fim, que respeita o ingrediente e valoriza a origem de cada semente.
– Confeitaria, gelato, tudo liga ao chocolate. Para isso, foi feita uma curadoria de amêndoas no Brasil e, hoje, nossa produção vem do Sul da Bahia – explicou Ricardo, enquanto apresentava uma degustação divina com direito a macarons de chocolate, pistache, café e chocolate com laranja.
A questão de preservar a originalidade dos ingredientes na Fuê é prioridade e por isso, eles integram a Associação Bean To Bar Brasil. A entidade reúne diversos produtores comprometidos com a cadeia ética do chocolate artesanal no país.
Para estar entre os associados, é preciso seguir critérios rigorosos que envolvem desde a compra direta com produtores de cacau até práticas sustentáveis e respeito às características naturais de cada amêndoa.
Ricardo, no entanto, revelou que quer ir mais longe. “Hoje há produtores da nossa associação que já seguem o conceito tree to bar, da árvore até a barra, que vai desde o cultivo do cacau até a barra de chocolate. É um sonho”, disse.
Escola de gelato
Desde fevereiro de 2018, a Fuê Gelateria expandiu seu propósito e passou a atuar também como escola, formando novos profissionais no segmento da confeitaria fria. Empreendedores de diferentes partes do Brasil, e até do mundo, desembarcam em Penedo em busca de conhecimento técnico e vivência prática sobre o universo da gelateria artesanal.
Hoje professor da escola, Ricardo relembrou que foi aluno da 10ª turma do curso. “Foi a minha porta de entrada para o mundo da gastronomia. Hoje, temos mais de 2.800 alunos formados em gelato natural. É incrível” afirmou.
