Meteorologista fala sobre clima instável na primavera

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O clima seco do sudeste favorece as condições adversas do clima nesta primavera. Foto: Agência Brasil

Por Lanna Silveira

O período primaveril da região sudeste do Brasil tem apresentado um quadro notável de instabilidade climática. Desde o fim de setembro, as semanas têm apresentado um quadro misto de frentes frias e quentes, que deixam a previsão da temperatura imprevisível para a população. Em muitos casos, a alta amplitude térmica se reflete ao longo de um mesmo dia, por meio de quedas e elevações bruscas de temperatura. O meteorologista Daniel Caetano, da UFMS, explica o que causa a instabilidade climática na região e o que se pode esperar para os próximos meses.

Amplitude térmica

Segundo o especialista, o início da primavera sudestina apresentou um clima seco, devido ao avanço de massas de ar seco, originadas no sul do Brasil, até a região. A presença dessas massas de ar influencia a temperatura mínima local, aumentando a amplitude térmica: enquanto o ar seco abaixa as temperaturas, a irradiação solar e o clima naturalmente mais quente da região sudeste atuavam elevando as temperaturas.

O clima seco, unido às oscilações de frio e calor, comprometem o sistema imunológico humano e facilitam o contágio de doenças respiratórias. Daniel Caetano reforça que as variações são mais sentidas por populações que não estão habituadas a vivenciar dias de alta variabilidade climática.

O meteorologista explica que, a princípio, os estudos climáticos identificam essa condição como momentânea e não existe uma previsão clara de que as futuras primaveras repetirão esse quadro.

Ventania

A chegada da primavera na região sudeste também trouxe ventos de alta velocidade. Índices registrados em Volta Redonda chegaram a identificar ventanias que batiam 40km/h. Daniel explica que a força dos ventos também é facilitada em ambientes de clima seco, como se verifica nesta primavera. Pensando em uma perspectiva nacional, ele aponta que o aumento de velocidade pode ser consequência do aquecimento da atmosfera continental, além da chegada das brisas vindas dos oceanos – especialmente, em regiões litorâneas.

O ciclone extratropical que atingiu a região sul do Brasil no início de novembro gerou aflição generalizada no país, devido a seu nível inédito de perigo. Sobre o assunto, o meteorologista explica que esse tipo de ciclone, que normalmente se forma no sul do país, dificilmente tem a capacidade de avançar a regiões posicionadas mais ao norte. Ele frisa que poucos ciclones poderão chegar próximos ao sudeste, e o impacto sentido na região se manifestará apenas por meio de chuvas intensas.

Sobre a possibilidade de a força dos ventos aumentar com o passar dos anos, se configurando como um caso de mudança climática, Daniel explica que não existem estudos consolidados na meteorologia para definir alguma previsão neste tópico.

Outros quadros

Daniel Caetano também fala sobre outras questões climáticas que surgiram nos últimos anos e que se apresentam como novos padrões meteorológicos. O especialista explica que o aquecimento da atmosfera do planeta resultou em transformações como: o aumento das ondas de calor em algumas regiões do Brasil, que se manifesta em grandes períodos seco e temperatura elevada; a irregularidade nas chuvas da região sudeste, que, segundo Daniel, normalmente tem uma estação chuvosa bem definida, o que aumenta o risco de crise hídrica local; e o aumento do volume pluviométrico das chuvas, mesmo em períodos em que sua frequência é baixa.