A II Conferência Livre de Povos de Terreiro do Sul Fluminense, realizada neste domingo (28), reuniu cerca de 200 pessoas no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), em Volta Redonda (RJ). O evento promovido pela Comissão Mojubá, tem os objetivos de reunir lideranças religiosas de matrizes africanas a agentes do poder público para debater estratégias de combate ao racismo religioso e preservar o legado histórico e cultural de religiões de matrizes afro-indígenas.
A programação da Conferência contou com quatro mesas temáticas: Direitos dos Povos de Terreiro – O Direito à Cidade e à Política; Sustentabilidade e Povos de Terreiro – Reconhecimento das Comunidades Tradicionais como Guardiões da Terra; Educação e Povos de Terreiro – A Pedagogia de Terreiro para a Transformação Social; Ancestralidade, além de oficinas para crianças, intervenções artísticas como graffiti, apresentação do Grupo Afro Iya Mi Dunda, mostra audiovisual e feira de produtos artesanais.
Uma das conquistas da última edição da conferência bienal, realizada em 2023, foi a implementação da Lei Municipal 6.643/2025, que reconhece os Povos do Terreiro como Patrimônio Cultura Imaterial em Volta Redonda, pleiteada pela Comissão Mojubá de Terreiros do Sul Fluminense a partir de propostas aprovadas no evento.
“A sabedoria dos nossos povos, que fizeram a travessia do Atlântico, é o que nos sustenta até hoje. E é por meio dessa sabedoria ancestral que vamos buscar nossa independência e a reparação histórico por toda a tentativa de apagamento da nossa cultura. A Conferência Livre os Povos de Terreiro é um movimento político, uma ferramenta para buscar ações que contemplem a nossa cultura religiosa. Para isso, precisamos ter consciência da importância dos povos negros e originários na construção da identidade do nosso país, porque ser povo de terreiro é muito mais do que vestir branco na sexta-feira”, declarou Mãe Célia Morais, co-presidente da Comissão Mojubá e mãe de santo do Centro Espírita Nossa Senhora da Guia (CENSG), localizado em Volta Redonda.
Laura Ferrarez, Defensora Pública Federal, compôs a mesa Direitos dos Povos de Terreiro – O Direito à Cidade e à Política, ressaltando a importância da participação popular para a construção de políticas de combate ao racismo religioso que contemplem as demandas da população.
“A Conferência organizada pela Mojubá é um espaço de troca, um espaço da participação de pessoas de lugares diferentes, de pontos de vista diferentes, não necessariamente apenas de povos de terreiro, mas de todos os agentes com uma só finalidade: construir um espaço público de igualdade e de respeito. Como Defensora Pública, eu entendo que não há construção de política pública sem o povo que é massacrado pela que já existe. A Defensoria Pública da União tem como um dos objetivos a defesa da população vulnerável e dos direitos humanos. Nesse sentido, o evento é importantíssimo para a construção de uma nova política pública”, declarou Laura Ferrarez.
Tata Katuvanjesi, liderança religiosa do terreiro Inzo Tumbansi, localizado em Itapecerica da Serra (SP), coordenador-geral do Instituto Latino-Americano de Tradições Afro-Bantu (Ilabantu) e representante do Brasil no Centro Internacional de Civilizações Banto (CICIBA) compôs a mesa sobre ancestralidade, destacando a importância da herança cultura bantu, primeiros povos africanos trazidos ao Brasil no processo de escravização.
“Esta conferência se traduz na luta dos povos de terreiro para a manutenção do legado africano, não só em Volta Redonda, como também em todo o país. Povos que conseguiram resistir e reexistir ao longo dos tempos. É importante ocupar espaços como estes, trazendo autoridades municipais e até mesmo e do próprio sistema de justiça para ouvir o que é que esses povos têm a dizer e levar a cabo as decisões respeitando os devidos interesses na salvaguarda do seu patrimônio cultural africano e a preservação desses valores civilizatórios. Este movimento se traduz também na luta do povo de terreiro por garantia de direito e de respeito”, afirmou Tata Katuvanjesi.
As mesas temáticas foram compostas por lideranças religiosas como Mãe Célia Morais, Tata Katuvanjesi, bantu, Iyá Juliana Guimarães, Pai Jefferson de Oxalá, Mãe Rhani, Pai Ramon de Xangô, além de autoridades como Laura Ferrarez, defensora Pública Federal, das advogadas Eliege Domingos, Érika Monteze e Marcela Braga, Jorge Fuede, secretário de meio ambiente de Volta Redonda, Anderson Azevedo, subsecretário de meio ambiente de Volta Redonda, Raone Ferreira, vereador da Câmara Municipal de Volta Redonda, Cláudia Nunes, coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI/IFRJ), além de assessores parlamentares representando a deputada estadual Renata Souza.
Durante o encerramento da Conferência, o público presente aprovou o relatório final com propostas, metas e ações para implementação de políticas públicas nos próximos dois anos, relacionadas à preservação de memórias e saberes, gestão pública, direito e legislação.