A reunião do CNPE (Conselho Nacional de Políticas Energética) – marcada para o próximo dia 31 – promete ser cada vez mais explosiva. O conselho, ligado diretamente ao Ministério de Minas e Energia, terá que lidar com um tema que vem adiando há tempos: o risco de colapso financeiro e operacional imediato da Eletronuclear, que opera as usinas Angra 1 e Angra 2. Sim, a previsão de especialistas corroborados por números da estatal mostram que o caixa da empresa não consegue chegar nem até o final de novembro.
A decisão a respeito das obras de Angra 3, a grande vilã do imbróglio, continua no colo do governo Lula. A Eletronuclear pediu à União socorro de R$ 1,4 bilhão. Detalhe: o montante serve para dar um respiro nas contas da empresa, uma bola de neve. De imediato, até dezembro, a empresa tem que pagar R$ 570 milhões ao BTG e Banco ABC, usados para estender a vida útil de Angra 1 por 20 anos.
A INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que fornece combustível para a usinas nucleares, engrossa a lista de dívidas que a Eletronuclear acumula: R$ 700 milhões. Se a também estatal federal parar de fornecer combustível, o complexo nuclear de Angra dos Reis simplesmente paralisa. Ou seja: o pepino terá que ser descascado agora. De uma forma, ou de outra.
Na semana passada, o problema das usinas nucleares foi discutido na Alerj, o sindicato dos trabalhadores da usina participou, os deputados e outras lideranças debateram. Resultado: nenhum. Somente outras das inúmeras audiências públicas que não chegam a consenso, assim como o governo. Em meio à crise operacional financeira, a briga por nomes que vão ocupar cargos de diretores exonerados das estatais do setor energético como retaliação do governo por causa da recusa da MP que aumentava impostos. A Eletronuclear ainda enfrenta acusação de racismo por parte de um diretor, que almejava a presidência.
No fogo cruzado, a renúncia do presidente interino da Eletronuclear, Sinval Zaidan Gama, aos cargos de presidente interino e diretor técnico da empresa, “por motivos de ordem pessoal”. Conforme nota divulgada pela empresa, na semana passada, o executivo permanecerá no exercício de suas funções até que sejam designados os substitutos para ambas as posições, garantindo continuidade administrativa e operacional na transição. Segue a disputa pelo cargo. Seguem as críticas ferrenhas do sindicato sobre a gestão da empresa.
Além do risco de contratos, o sindicato dos trabalhadores está de olho no pagamento de salários dos empregados da estatal federal. Se atrasar, vão para as ruas cobrar do governo federal. Aliás, a estatal, enfrentou, em 2024, sob a gestão de Raul Lycurgo, a primeira greve da sua história, no embalo da situação financeira. Os custos para manter Angra 3 paralisadas são bilionários. Para tocar a obra iniciada ainda na década de 80, também são bilionários, e quase equivalem ao mesmo valor para mantê-las paradas.