Por Lanna Silveira
O documentário ‘Clécio Penedo: És Tupi do Brasil’, que conta a história do artista barramansense de mesmo nome, será disponibilizado no YouTube nesta sexta-feira (17). O filme, que foi produzido e lançado oficialmente em 2024, mostra a trajetória do artista plástico mineiro, que se mudou para Barra Mansa ainda na infância, e movimentou a cena cultural da região Sul Fluminense com trabalhos que faziam denúncias sobre problemas da realidade brasileira e abraçavam diferentes causas sociais.
A direção do documentário é de Pedro Henrique Reis, jornalista e produtor de televisão voltarredondense. O documentário foi idealizado como o trabalho de conclusão de curso (TCC) de Pedro, que conheceu a obra de Clécio ainda no Ensino Médio por meio das aulas de arte. “Desde a adolescência já admirava o trabalho do Clécio por toda a iconografia, todo o repertório e todas as técnicas que ele usa, como colagem e outras experimentações. Tudo isso me encantava muito”, explica o diretor, que acrescenta ter escolhido abordar o artista em seu TCC como uma forma de descobrir mais sobre o contexto de sua arte e carreira. Pedro destaca o papel de seu professor, Ayrton Costa, e de Antonieta Penedo, viúva do artista, no sucesso do documentário; enquanto Ayrton o aproximou de pessoas que tiveram contato próximo com Clécio durante a vida e o ajudou a elaborar a narrativa do filme, Antonieta ofereceu acesso ao acervo do artista, permitindo que ele estudasse trabalhos originais, rascunhos, esboços e até mesmo referências utilizadas por Clécio.
Ao desenvolver a narrativa do filme, Pedro optou por deixar que os depoimentos dos próprios entrevistados conduzissem a história contada, renunciando ao uso de recursos externos, como narração ou voz-off. Todos os entrevistados são pessoas próximas de Clécio; entre elas, estão Ana Letícia Penedo, filha de Clécio, e a própria Antonieta.
– Quando fui chamada para ajudar no filme senti como se uma linha imaginaria estivesse separando os guardados de um artista que mantinha tudo muito bem guardado. Foi com muito amor e respeito que começamos a tornar público os segredos e confidências do artista – comemora Antonieta.
Algumas gravações do documentário foram realizadas no Instituto Clécio Penedo – espaço de Barra Mansa que mantém preservado o acervo do artista e é aberto a visitação. O curta também tem cenas gravadas com alunos e professores do Colégio Municipal Clécio Penedo, escola batizada como uma homenagem em vida para o desenhista.
Com a chegada do filme à internet, toda a equipe envolvida na produção do documentário espera que a arte de Clécio alcance novos públicos e cative ainda mais quem já admira seu trabalho.
Reconhecimento nacional e orgulho local
A arte de Clécio Penedo é reconhecida não somente na região Sul Fluminense, como no Brasil inteiro. O artista, que frequentou a Escola Nacional de Belas Artes durante a década de 1950, desenvolveu trabalhos de criação própria e encomendados por instituições de arte de diversas partes do Brasil. O estilo do artista apresentou diversas formas ao longo de sua carreira: de desenhos com traços tradicionais até experimentos com colagens e uso de figuras de impacto e cores vivas. Um dos trabalhos mais notórios do artista é o painel “Colonização e Dependência” – que aborda, por meio de imagens simbólicas, diferentes momentos da história brasileira, como o sistema colonial, o processo de independência e perspectivas para o futuro do país -, encomendado pelo Museu Histórico Nacional na década de 1980.
O nome do documentário faz referência a uma das séries de desenhos mais reconhecidas de Clécio, “És Tupi do Brasil”, que retrata, por meio de diferentes obras, o apagamento dos povos originários brasileiros. Esta e outras coleções do artista foram revisitadas no documentário, passando por toda a evolução do pensar artístico e social de Clécio.
Além do Museu Histórico Nacional, obras do catálogo do artista também foram expostas no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; no Museu Lasar Segall, em São Paulo; no Museu Imperial, em Petrópolis; e alcançou, ainda, reconhecimento em casas de arte do Japão e da Alemanha.
Em Barra Mansa, a apreciação pelo legado do artista se expressa por meio de homenagens; o nome de Clécio foi utilizado para intitular escola, galeria de arte, rua e honraria para medalha de mérito cultural.