CSN fecha ano com ações no MPF, acidentes fatais e endividamento alto

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Usina Presidente Vargas polui atmosfera de Volta Redonda-RJ e teve dois acidentes fatais. Foto: Ana Luiza Rossi/CSF

População sofre com perda de familiares dentro da Usina, poluição do ar e montanha de ‘escória’ à beira do Rio Paraíba do Sul

Por Sônia Paes

A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) fecha 2025 com registros de vítimas fatais em acidentes na Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda-RJ, um calhamaço de processos judiciais – incluindo denúncia criminal – e dívida nas alturas. Um desafio para Benjamin Steinbruch, que comanda o Grupo com mãos de ferro. É um ano que a empresa tiraria do papel, se fosse possível. Por outro lado, a população daquela que é conhecida como a “Cidade do Aço”, guardará 2025 na memória, marcado por perdas de familiares, poluição despejada na atmosfera dia após a dia, a montanha de resíduo sólido à beira do Rio Paraíba do Sul, e incontáveis transtornos.

A empresa, marco da revolução industrial no país, tem rastros de um período duro enfrentado pelo Brasil: o da ditadura militar. No mês passado, foi condenada pela Justiça Federal a disponibilizar ao Arquivo Nacional o acervo documental anterior à sua privatização, em 1993. Isso inclui os documentos produzidos pela Assessoria de Segurança e Informações (ASI), que funcionou dentro da CSN a partir de 1977, a fim de coletar informações para o regime militar. A sentença foi proferida em ação civil pública movida pelo MPF (Ministério Público Federal). Ainda cabe recurso.

Em nota divulgada na ocasião, a CSN esclareceu que “já disponibiliza acesso ao seu acervo documental histórico pré-privatização, reafirmando seu compromisso com a transparência e com a liberdade de informação”.

– A Companhia segue empenhada em assegurar que dados de interesse público estejam acessíveis de forma clara e responsável, fortalecendo o diálogo com a sociedade e com seus diversos públicos. Além disso, é importante destacar que a CSN mantém os arquivos sob uma coordenadoria exclusiva para garantir a preservação e integridade da documentação histórica – afirmou a CSN, por meio de nota.

Denúncia criminal

Em outubro, outra investida do MPF: denúncia por crime ambiental. O órgão acusa a CSN e a Harsco de poluição crônica por décadas, com depósitos de escória que contaminaram o solo e o lençol freático, afetando mais de 40 mil moradores e o Rio Paraíba do Sul, pedindo indenização superior a R$ 430 milhões e descartando acordos devido à gravidade. A Companhia contesta a validade técnica da denúncia e alega estar em negociação, buscando uma solução consensual.

De acordo com o procurador da República Jairo da Silva, autor da denúncia, o caso representa “uma política corporativa consciente de descumprimento sistemático das normas ambientais”. Ele afirmou que a gravidade dos danos exige “resposta firme do Estado” e a aplicação efetiva do Direito Penal Ambiental.

Na ocasião, a CSN disse em nota que vai recorrer da denúncia apresentada pelo MPF. “A empresa considera a medida inesperada, uma vez que a própria Procuradoria da República vem conduzindo, há três anos, tratativas para celebração de um Termo de Acordo Judicial (TAJ), com a suspensão da ação civil pública para viabilizar esse entendimento”.

Acidentes fatais na Usina

Janeiro começou triste e nebuloso para o município de Volta Redonda. Uma funcionária de empresa terceirizada caiu de 15 metros de altura e morreu na usina. O trágico acidente deixou órfã uma menina de apenas 8 anos. Laurilene Cristina Leal de Souza, de 28 anos, era auxiliar de limpeza industrial da Companhia Brasileira de Serviços de Infraestrutura (CBSI), que presta serviços à CSN.

“A CBSI informa que, lamentavelmente, uma de suas colaboradoras sofreu um acidente envolvendo uma queda na Usina Presidente Vargas, nesta sexta-feira, 10 de janeiro de 2025, pela manhã. Ela foi prontamente socorrida e levada ao Hospital Santa Cecília, onde permanece internada recebendo os devidos cuidados médicos. A empresa está em contato próximo com a equipe médica e com os familiares da colaboradora, prestando todo o suporte necessário neste momento. Paralelamente, segue apurando as causas do ocorrido” – disse a nota da CBSI.

Quase três meses depois, outro acidente fatal. O mecânico Bruno José Oliveira das Neves Paiva, de 40 anos, sofreu um acidente dentro da usina. Na época, as causas do acidente não foram divulgadas. Ele foi socorrido e encaminhado ao Hospital Santa Cecília, mas não resistiu aos ferimentos. Na ocasião, a CSN informou que prestou “toda a assistência necessária à família da vítima e que estava colaborando com a apuração das causas do acidente”.

Endividamento alto

A CSN enfrenta um desafio com sua dívida elevada, que totalizava cerca de R$ 37,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, com o indicador Dívida Líquida/EBITDA acima da meta, pressionando a alavancagem. Apesar de avanços operacionais e planos de venda de ativos, como a criação da CSN Infraestrutura, para levantar caixa e reduzir esse endividamento, o fato tem gerado preocupação de agências de rating como S&P e Moody’s.

Steinbruch busca incessantemente formas de reduzir sua alta dívida, focando na venda de ativos e na monetização de sua infraestrutura, mas o cenário continua desafiador e sob o olhar atento do mercado e das agências de classificação de risco.