Museu Vassouras celebra narrativas regionais com a exposição “Chegança”
Por Lanna Silveira
O recém-inaugurado Museu Vassouras abre oficialmente a sua programação artística com a exposição “Chegança” neste sábado (6), permanecendo em cartaz até maio de 2026. A mostra, construída de forma coletiva, celebra as tradições populares e as múltiplas vozes do Vale do Café com a reunião de, aproximadamente, 130 obras de mais de 60 artistas.
Com curadoria de Marcelo Campos e assistência curatorial de Thayná Trindade, a exposição mergulha na história do território a partir dos ritos e festejos, trajetos do trem, o rio paraíba e conexões culturais, do jongo, da folia de reis a figuras históricas.
A expografia de “Chegança”, projetada pela arquiteta Gisele de Paula, propõe uma experiência imersiva e sensorial, onde o visitante é convidado a percorrer espaços marcados por cores, luzes e materiais que remetem às camadas simbólicas da região.
Complementando o percurso visual, a paisagem sonora criada pelo produtor musical Alê Siqueira costura os sons do vapor, do trem, do rio e das manifestações populares com cantos de artistas locais e gravações históricas de Clementina de Jesus e Rosinha de Valença. A trilha inclui ainda a participação do rapper indígena Kandú Puri, promovendo o encontro entre tradição e contemporaneidade.
Durante todo o período da mostra, o Museu Vassouras promoverá ativações mensais com performances, oficinas, rodas de conversa e encontros de folias e jongo, ampliando o diálogo entre artistas e comunidade.
Em paralelo, será lançado um material pedagógico voltado para professores e alunos das escolas da região, abordando os temas da exposição a partir de uma perspectiva plural e inclusiva. O material visa fortalecer o vínculo entre o museu e a educação, promovendo a escuta ativa e o pertencimento das comunidades locais.
Percurso expositivo
A exposição se organiza em três núcleos temáticos — Folias, Vapor e Milagre — que formam um roteiro poético e sensorial pelas culturas que brotam da região. O visitante é convidado a atravessar esse território simbólico como quem percorre uma festa ou um cortejo, guiado por cantos, memórias e presenças.
No eixo Folias, a mostra mergulha nas expressões populares, das folias de reis aos cortejos urbanos, revelando a alegria como gesto de resistência, encantamento e continuidade. É o ponto de partida de “Chegança”, onde o território se anuncia em ritmo e celebração. As festividades atravessam o Vale do Café para encontrar as ruas vivas de Vassouras, os quintais enfeitados e os cortejos que lembram que o tempo da alegria também é tempo de memória.
O núcleo Vapor atravessa os antigos trilhos de ferro que conectaram o Vale do Café à Central do Brasil. Ali, o trem encontra o batuque do jongo, reverberando manifestações afrodiaspóricas, trazendo vozes ancestrais e lideranças históricas quilombolas, além de fazer referência aos quintais como nascedouros de rodas de samba e improviso. A seção, com as paredes em tom de marrom — remetendo ao ferro e à ferrugem —, explora diferentes aspectos da travessia cultural na região.
Por fim, o núcleo Milagre nasce das águas do Paraíba do Sul — fio vivo que conduz mitos, crenças e ritos do Vale. Entre a aparição de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Vassouras, a lenda do Caboclo d’Água e os peixes como promessa de fartura, o rio revela um território onde fé, natureza e cotidiano se entrelaçam. A noção de milagre se fortalece pela arquitetura do espaço: uma claraboia ilumina a sala como uma anunciação, criando um imaginário quase barroco que envolve visitantes em luz e sombra.
Mais detalhes sobre as obras expostas e os artistas representados estão disponíveis pelo site: museuvassouras.org.br.