Paciente transgênero sofre discriminação durante tratamento médico em Piraí

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O paciente está passando por um tratamento de emergência desde o início de setembro - Arquivo/Henrique Bueno

Identidade de gênero teria sido desrespeitada durante internação

Por Lanna Silveira

O estudante e artista Henrique Bueno, morador de Piraí, está mobilizando a comunidade LGBTQIA+ da região Sul Fluminense com uma série de postagens em suas redes sociais sobre sua condição de saúde. Ele se queixa do atendimento recebido pelas equipes do SUS (Sistema de Saúde Único) enquanto homem transgênero.

Henrique está internado há mais de 15 dias e recebendo tratamento desde o início do mês de setembro, após ser diagnosticado com um quadro de Síndrome de Stevens-Johnson: uma condição que, normalmente, é desencadeada por uma reação a medicamentos ou infecções, se manifestando por meio de inflamações dolorosas na pele e nas mucosas. A síndrome requer tratamento emergencial e oferece risco de complicações.

Desde o início da internação, Henrique e pessoas próximas usaram seu perfil do Instagram para contar sobre os sofrimentos que vêm com o contágio da síndrome, unidos à sua rotina no hospital e experiências negativas passadas durante diferentes atendimentos. Segundo Henrique, assim que chegou ao hospital, a equipe administrativa se recusou a chamá-lo de Henrique, seu nome social – termo atribuído para a forma como pessoas transgênero desejam ser reconhecidas -, insistindo em chamá-lo por seu nome civil (ou “nome morto”). Henrique alega que a equipe justificou a negligência dizendo que “não existia nenhum aparato legal para exigir o uso do nome social”, apesar disso ser garantido como um direito da comunidade pelo Decreto nº 8.727/2016. Henrique acrescenta que, mesmo após apontar a existência dessa lei, a equipe persistiu no uso de seu “nome morto”.

O estudante acrescenta que, mesmo com seu nome escrito na porta do quarto onde está internado, enfermeiras e técnicas de enfermagem do hospital o tratam com o uso de pronomes femininos. Para Henrique, lidar com a negligência soma ao estresse do tratamento da doença, dificultando o seu estado de saúde mental e física. Henrique vem recebendo acompanhamento jurídico e recolhendo provas do ocorrido para que seja possível intervir no caso.

Esclarecimentos

O Correio Sul Fluminense entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Piraí para pedir seu posicionamento sobre o ocorrido. A equipe informa que teve conhecimento do caso e entrou em contato com a companheira da vítima para abrir diálogo sobre a situação e oferecer suporte. A pasta também garante que será promovido um treinamento com toda a equipe do hospital para reforçar os protocolos de atendimento, assegurar o cumprimento da legislação vigente e evitar que esse tipo de situação se repita.

O Correio Sul Fluminense também tentou entrar em contato direto com o Hospital Flavio Leal para buscar esclarecimentos sobre o ocorrido, mas nenhuma chamada foi redirecionada a equipe administrativa do hospital.

Problema estrutural

A psicóloga Talita Dinato explica que, para a psicologia, a identidade de gênero é um elemento que dita a forma como uma pessoa se percebe, se relaciona e é reconhecida socialmente. Por isso, ela afirma que a negação dessa identidade é um ataque a “condição de existência” de uma pessoa e, quando isso ocorre em atendimentos de saúde, ela deve ser entendida como uma violência institucional contra o paciente.

Segundo a psicóloga Miriam Andrade, essa situação configura um fenômeno intitulado “Estresse de Minoria”, que classifica problemas enfrentados especificamente por grupos que sofrem algum tipo de marginalização social.

– As pesquisas sobre saúde mental indicam que, por causa dos estresses vividos pelos transgêneros, eles apresentam o dobro de chance de tentar suicídio, além de uma tendência maior a desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e abuso de substâncias, em comparação à população em geral – acrescenta.

As especialistas apontam que o apagamento da identidade de gênero faz com que um paciente trans se sinta humilhado e constrangido, enfatizando que, quando isso ocorre em um ambiente médico, ele pode não se sentir seguro para dar continuidade ao tratamento, a fim de evitar novas situações de discriminação. Talita ressalta que, para entender a gravidade dessa realidade, é preciso lembrar que muitas pessoas transgênero não lidam apenas com a transfobia, podendo enfrentar simultaneamente outros tipos de discriminação e desigualdade que potencializem seu sofrimento e vulnerabilidade.

Maraya Cristine, psicóloga e ativista da causa LGBTQIA+ na região, evidencia a importância de se discutir a falta de capacitação profissional na área da saúde para oferecer um atendimento digno a membros da comunidade.

– Muitos profissionais não sabem atender pessoas LGBTQIA+, não buscam entender suas singularidades e, não sabem, ou não se importam, se estão ou não agindo da maneira correta. Urge a necessidade de políticas públicas que conscientizem e capacitem profissionais da saúde para lidar de maneira respeitosa e eficaz com essa população – completa.

Correio Sul Fluminense

Uma Publicação do Grupo Correio da Manhã

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