O repasse de bonificações de altas cifras a funcionários de estatais federais constrasta com a situação financeira das mesmas empresas quando o assunto é investimento em projetos, como ocorre com a Eletronuclear, com as obras de Angra 3 paralisadas. Pelo menos seis companhias do governo federal repassaram mais de R$ 100 mil a alguns de seus empregados.
A ENBPar (Empresa Nacional de Participações em Energia Nuclear e Binacional), estatal que detém o controle da Eletronuclear e da fatia brasileira na usina hidrelétrica de Itaipu, figura entre as maiores bonificações a funcionários.
A empresa pagou em maio deste ano um extra de R$ 27 mil a R$ 87,9 mil a seus funcionários. O valor integral médio do bônus ficou em R$ 54,2 mil, alta de 4,4% em relação ao repasse feito em 2024.
Apesar da aparente estabilidade, o custo total da PLR subiu 28,8% (de R$ 4,8 milhões para R$ 6,2 milhões), pois um número maior de empregados recebeu a parcela integral. Além disso, o valor cresceu mesmo com a queda de 26% no lucro líquido (que ficou em R$ 308,15 milhões no ano passado).
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a companhia abriga parentes de parlamentares, de integrantes do governo e de figuras históricas do partido. Um deles é Adhemar Palocci, irmão de Antonio Palocci, ex-homem forte do PT que deixou o partido após depor contra Lula na Operação Lava Jato.
Adhemar atua como assessor da presidência na ENBPar e recebeu um bônus de R$ 87,6 mil mais que o dobro do valor recebido em 2024 (R$ 39,7 mil).
A ENBPar foi criada em 2021 para abrigar partes da Eletrobras que ficaram fora do processo de privatização. Era para ser uma empresa de estrutura enxuta, mas virou reduto de indicações políticas.
O bônus chama a atenção porque as empresas que ela controla lhe impõem grande desafio financeiro. A Eletronuclear precisa lidar com o passivo de Angra 3, cuja obra terá um custo bilionário, seja para concluí-la, seja para abandoná-la. Itaipu, por sua vez, não deveria dar lucro, já que a tarifa da usina teria de ser calculada em valor suficiente apenas para cobrir os custos da energia.
Procurada, a companhia diz desenvolver “outras frentes de negócios que geram receitas à companhia”, entre elas a comercialização da energia produzida por Itaipu Binacional e a gestão e operação de programas de governo.
A ENBPar afirma ainda que Adhemar Palocci “atua há 40 anos no setor elétrico e ocupou diversos cargos técnicos”.
*Com informações de Idiana Tomazelli – Folhapress