Presidente da entidade diz que Lula sofre enfrentamento do ministro Alexandre Silveira na escolha de presidente para estatal
Por Sônia Paes
O governo do presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, serão alvos nesta quinta-feira, dia 21, às 18 horas, de um protesto do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica nos Municípios de Paraty e Angra dos Reis (Stiepar). Motivo: a indefinição sobre o comando da Eletronuclear, que opera as usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3. O ato será durante o Seminário de Devolução das Ações dos Programas Socioambientais da Central Nuclear de Angra, interior do Estado do Rio, promovido pela estatal federal, com apoio do Ibama.
Os municípios de Rio Claro, Angra e Paraty, todos no entorno do complexo nuclear, devem enviar representantes para o evento, que será ainda transmitido pelo youtube. O presidente do sindicato Cássio Lúcio Luiz Martins, mais conhecido como Tilico, explica que a demora na troca da atual gestão, classificada por ele como desastrosa, oferece risco nuclear para o país.
Desde meados de julho o diretor-técnico Sinval Zaidan Gama ocupa interinamente a presidência, no lugar de Raul Lycurgo Leite. “O sindicato apoia a decisão do Sinval como presidente interino por falta de opção”, dispara Tilico. “O nome Sinval veio como atenuador de conflito pois o conselho sabe que os trabalhadores jamais permitiriam a condução de Sidney Bispo mesmo que temporário”, disse, referindo-se ao diretor-administrativo, Sidney Bispo, com grande rejeição entre os trabalhadores. Detalhe: a indicação de Bispo vem do Ministério Minas e Energia e chegou até a ser testada. Em janeiro deste ano, ele assumiu interinamente o comando da empresa e enfrentou resistência dos empregados e até mesmo pedidos de exoneração de gerentes. Resultado: voltou para a direção administrativa.
A nomeação para a presidência da Eletronuclear, assim como de outras estatais do setor de energia, como a Indústria Nucleares do Brasil (INB) e Nuclep, indústria estratégica nacional criada para atender ao Programa Nuclear Brasileiro, mexe também com o cenário político, além do técnico. A gestão do ex-presidente Raul Lycurgo, por exemplo, causou um profundo mal estar entre os funcionários e o governo federal, a quase um ano da eleição para presidente.
Além disso, o PT do Rio defende um nome que não cause embate por causa da localização da central eletronuclear: Angra dos Reis. O município da Costa Verde é quintal do ex-presidente Jair Bolsonaro e políticos da extrema direita.
Já a preferência no meio sindical é pelo diretor-operacional Luiz Ricardo Pereira, que iniciou sua carreira em 1980 em Angra 1. “Porém, ele acumula duas pastas”, adianta o sindicalista, voltando a disparar contra o ministro Alexandre Silveira.
– Não iremos permitir Sidney Bispo como presidente da Eletronuclear. O mais triste disso tudo é que o governo está sendo peitado por Alexandre Silveira que atropelou até mesmo a decisão da ministra de Secretaria de Relações Institucionais ministra, Gleisi Hoffmann, de efetuar troca da gestão por novos nomes – afirmou.
Ele confirma que Sidney Bispo, apadrinhado pelo ministro, continua no cargo há cerca de três meses, alegando estar fazendo um trabalho de excelência chamado de gestão de choque: “Mais conhecido pelos trabalhadores como gestão desastrosa, que vem sucateando as usinas e colocando tudo em risco”, conclui Tilico.
A manifestação do sindicato, marcada para as 18 horas, vai chamar atenção também para o fim do transporte oferecido pela Eletronuclear para alunos de universidades de Angra dos Reis, Barra Mansa e Volta Redonda. O serviço foi paralisado em 24 de julho e a medida faz parte do plano de contenção da empresa.
O sindicalista aproveitará o ato para repudiar o corte do benefício que garantia moradia para trabalhadores da empresa. Ato todo são duas vilas residenciais (Mambucaba e Praia Brava) em Angra dos Reis, construídas para atender os moradores. No ano passado, na gestão de Raul Lycurgo começou a ser definido o pagamento de condomínio e manutenção das vilas de casas, gerando reação do sindicato.