Vale do Café remodela atuação no turismo histórico

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Fazendas históricas no Vale do Café, interior do Rio de Janeiro, atrai turistas de todo o país - Divulgação/Flickr

O recém-lançado Guia do Afroturismo no Brasil – Roteiros e Experiências da Cultura Afro-Brasileira acende um novo alerta para o turismo nacional: é hora de ampliar as rotas tradicionais e valorizar o protagonismo negro como parte estrutural da identidade brasileira. Para a especialista em turismo Santuza Macedo, CEO da Diamond Viagens, a publicação representa uma oportunidade inédita de transformação para regiões historicamente marcadas pela presença negra como o Sul Fluminense. O guia foi elaborado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Unesco.

-A região que um dia se orgulhou do chamado ‘ciclo do ouro negro’, precisa agora revisitar sua história com responsabilidade e devolver protagonismo às vozes que por muito tempo foram apagadas. O afroturismo não é tendência, é reparação. E o Sul Fluminense tem tudo para liderar essa virada – afirma a especialista.

Turismo como ferramenta de justiça social

O guia reúne 43 roteiros afrocentrados em todas as regiões do país e traz um mapeamento detalhado de iniciativas conduzidas por afroempreendedores, comunidades quilombolas e territórios de matriz africana. O documento ainda propõe diretrizes para subsidiar políticas públicas, fortalecer identidades negras e gerar renda de forma sustentável.

Para Santuza, o Sul Fluminense reúne todos os elementos para se tornar referência em afroturismo: legado histórico, comunidades vivas e patrimônio imaterial em estado bruto. “De Paraty a Barra do Piraí, de Angra dos Reis a Rio Claro, o território respira ancestralidade. O que falta é vontade política e planejamento para transformar essa herança em experiência turística com respeito, autenticidade e desenvolvimento para quem vive nela”, defende.

A região do Vale do Café, conhecida por seus casarões e fazendas coloniais, ainda concentra grande parte da narrativa turística nos antigos barões do café. Para Santuza, esse modelo precisa ser reestruturado para atender uma sociedade que exige representatividade, inclusão e coerência histórica.

“Não é possível vender passeios em senzalas sem refletir sobre quem as construiu. O turismo precisa amadurecer e incluir as memórias da diáspora africana como parte central da experiência. Quilombos, terreiros, festas de matriz africana e gastronomia ancestral são patrimônio vivo e precisam ser tratados como tal”, pontua.

Ela destaca que o Sul Fluminense abriga diversas comunidades negras organizadas e prontas para o diálogo com o setor turístico. “É preciso investir em capacitação, certificação e infraestrutura. Com o apoio técnico certo, essas comunidades podem conduzir seus próprios roteiros, gerar renda e preservar sua história com autonomia.”

Integração com
o cenário nacional

Entre os critérios para inclusão no guia estão: presença no Mapa do Turismo Brasileiro, atuação de afroempreendedores e regularidade no Cadastur. Para a especialista, essa triagem abre uma janela importante para que os municípios da região se mobilizem.

“O lançamento do guia é um chamado à ação. Cabe agora aos gestores, empresários e lideranças locais correrem para mapear suas iniciativas, qualificar os profissionais e fortalecer o ecossistema local. O afroturismo precisa deixar de ser exceção para se tornar eixo central da política turística regional”, alerta Santuza.

Afroturismo é desenvolvimento sustentável com identidade

Além de reconhecer o valor simbólico da cultura afro-brasileira, o afroturismo dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU especialmente os de redução das desigualdades (ODS 10) e crescimento econômico inclusivo (ODS 8). O segmento é apontado por especialistas como um dos mais promissores do turismo contemporâneo, por combinar autenticidade, impacto social e conexão com novas demandas do público viajante.

“O novo turista quer experiências reais, com propósito. Ele não busca apenas lazer, mas significado. E o afroturismo oferece isso: uma chance de se reconectar com o Brasil profundo, com suas raízes, com a história que nunca foi contada nos livros. E o Sul Fluminense pode e deve ser protagonista dessa jornada”, conclui a especialista.

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Correio Sul Fluminense

Uma Publicação do Grupo Correio da Manhã

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