Juros, insegurança jurídica e altos custos preocupam empresários
Um alerta emitido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Sul Fluminense (Sinduscon-SF) relatou uma crescente desaceleração do setor na região. Embora a construção civil tenha impulsionado a geração de empregos formais nos últimos meses, os sinais de retração já são visíveis e preocupam empresários e trabalhadores do setor.
A presidente do Sinduscon-SF, Elissandra Candido, afirma que o cenário vem se deteriorando com a combinação de juros altos, insegurança jurídica, aumento dos custos e impacto direto da política comercial internacional, como o “tarifaço” proposto pelos Estados Unidos sobre o aço e alumínio brasileiros — o que afeta diretamente a base produtiva da região, onde grandes indústrias siderúrgicas estão instaladas.
– Estamos observando uma queda acentuada no volume de novas obras, especialmente no setor privado. Os financiamentos imobiliários estão cada vez mais difíceis de serem viabilizados, os custos de insumos continuam pressionando os orçamentos, e há incerteza jurídica sobre licenças e regulações. A situação preocupa toda a cadeia da construção civil – alerta a presidente.
Atividades em retração
Apesar de um saldo positivo na geração de empregos formais no início de 2025, com mais de 3 mil vagas abertas no estado do Rio de Janeiro, o nível de atividade já aponta retração, com queda na Utilização da Capacidade Operacional (UCO) e redução na confiança empresarial, segundo indicadores da CNI e Firjan.
Na região Sul Fluminense, municípios como Volta Redonda, Resende e Angra dos Reis ainda lideram em postos formais, mas começam a sentir os efeitos da desaceleração. “Estamos mantendo postos de trabalho graças a projetos iniciados anteriormente. No entanto, a previsão de novos empreendimentos está estagnada”, aponta o Sinduscon-SF.
Aliás, dados da Confederação Nacional da Indústria apontam que o emprego no setor industrial brasileiro registrou queda de 0,4% entre março e abril de 2025 — a primeira desde setembro de 2023, encerrando A UCI industrial também recuou, de 79,8% para 77,9%, e o faturamento real caiu 0,8% no mesmo período.
Escassez de mão de obra e ‘tarifaço’
Outro entrave relatado pelos empresários do setor é a insegurança jurídica relacionada a licenciamentos e à morosidade nos processos públicos, além da falta de mão de obra qualificada, o que gera atrasos e compromete a competitividade das empresas.
“O Sul Fluminense tem um enorme potencial de crescimento, mas precisa de estabilidade jurídica, linhas de crédito acessíveis e uma política industrial que valorize a construção como motor da economia”, reforça o sindicato patronal.
Ainda, a proposta de aumento de tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiro pelos Estados Unidos afeta diretamente a cadeia produtiva da construção no Sul Fluminense, que depende das usinas locais e da indústria metalmecânica. O “tarifaço”, somado ao dólar instável, gera aumento nos custos e incertezas nos contratos de médio e longo prazo.
Para resolver o cenário, o sindicato propôs uma agenda de enfrentamento junto à Firjan, CBIC e autoridades locais. Entre as propostas, estaria: Redução emergencial da taxa básica de juros (Selic); Estímulo a linhas de crédito para construção e infraestrutura; Simplificação dos processos de licenciamento ambiental e urbanístico; Programas de qualificação rápida de mão de obra; e por fim, uma política fiscal que reduza o impacto da alta dos insumos.
“É hora de agir. Precisamos que o poder público e os setores produtivos caminhem juntos para evitar que a construção civil, um dos maiores motores da economia nacional e regional, entre em recessão nos próximos meses”, concluiu o Sinduscon-SF.